12/18/2008 09:50:00 AM Comment2 Comments


Como todo bom pintor tem o direito de representar seu auto-retrato, creio que os escritores [não me inclua necessariamente nos bons] têm o direito de, com suas palavras, por vezes exageradas, minimalistas, tendenciosas ou pseudoimparciais (visto que imparcialidade é um mito, pois até a ordem das palavras escolhidas revela parte do autor), definir-se como bem se entende.
Se me olhasse por fora, veria um adolescente aparentemente simples, preocupado com algumas de suas obrigações, sonhador, esperançoso; mas como me olho de dentro, numa visão totalmente expressionista, sei que as obrigações por momentos superaram alguns sonhos e só a esperança sobrou.
Por fora, vê-se um jovem com toda a vontade [e até certa habilidade] de se comunicar; por dentro sou capaz de notar determinado hermetismo de minha parte para alguns sentimentos, pensamentos e até ações. Ser um livro aberto não é de meu interesse, posto que assim igualaria todos os leitores. Prefiro deixar que existam entrelinhas para aqueles que sabem lê-las e algumas convicções para os que não decifram nem o amanhecer [como se fazer isso fosse fácil].
Mas, se pudesse escolher uma palavra para me definir, esta seria contradição. Em mim há um coração impulsivo e uma mente controladora, braços que aproximam e pernas que fogem, peito para amar e o mesmo peito para odiar!
Penso que a maioria, ao se ver assim, tentaria controlar tais paradoxos, na tentativa (provavelmente inútil) de se manter uniforme. Faço o contrário, assumo minha contradição e faço dela meu modo de vida.

Isso me torna um ser humano, não a tentativa de ser uma máquina.



"Desde aí comecei a procurar-me - ao eu por detrás de mim à tona dos espelhos, em sua lisa, funda lâmina, em seu lume frio"
João Guimarães Rosa, Primeiras Estórias.

12/09/2008 11:33:00 PM Comment1 Comments

Capitu, a nova microssérie da Rede Globo, será exibida em cinco episódios com estréia no dia 09 de Dezembro e fim em 16 do mesmo mês. A série faz alusão direta à obra do grande realista brasileiro, Machado de Assis, em homenagem ao centenário do ano de sua morte (1908). O texto foi diretamente extraído do livro, o que dá à narrativa a pitoresca qualidade irônica e envolvente de Machado. De acordo com o original, a estória é narrada por Bento no fim de sua vida, relembrando seus momentos e adicionando-lhes novas características devido às reflexões de seus amargos anos solitários e à sua dúvida corrosiva em relação ao suposto adultério de sua esposa, Capitolina. Do mesmo diretor da obra Hoje é dia de Maria, Luiz Fernando Carvalho, a obra é predominantemente exibida em cenários que promovem uma atmosfera de encanto ao telespectador. A trilha sonora também contribui no desenvolvimento da atmosfera, em destaque está a música destinada ao casal (Bento e Capitolina), Elephant Gun, da banda Beirut (http://www.youtube.com/watch?v=P70X8UEaAL4). Para aqueles que leram a obra, o encanto é ainda maior, são suscitados de maneira supreendente os detalhes do livro, os títulos dos capítulos, as singularidades e descrições dos personagens, além do interessante fato de ver tudo aquilo que foi imaginado durante a leitura. A Narrativa segue um ritmo adequado à obra, as atuações estão condizentes com as personagens e as cenas são bem divididas, respeitando também a ordem dos capítulos no texto inicial. Todos os elementos estão unidos de modo tão coeso que aquele a que assiste deseja que as cenas passem devagar e o capítulo nunca acabe. O fim do episódio deixou um ar de continuidade que prende o telespectador na imaginação de como continuarão as cenas (isso vale também para aqueles que leram a obra, pois imaginarão como o diretor conseguirá reproduzir os fatos). Capitu foi um verdadeiro presente para os amantes da literatura, uma surpresa para os que estão desfrutando pela primeira vez da obra de Machado e,para todos, mais um motivo de se orgulhar em ter Machado de Assis como um grande representante da literatura brasileira.

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