Por fora, vê-se um jovem com toda a vontade [e até certa habilidade] de se comunicar; por dentro sou capaz de notar determinado hermetismo de minha parte para alguns sentimentos, pensamentos e até ações. Ser um livro aberto não é de meu interesse, posto que assim igualaria todos os leitores. Prefiro deixar que existam entrelinhas para aqueles que sabem lê-las e algumas convicções para os que não decifram nem o amanhecer [como se fazer isso fosse fácil].
Mas, se pudesse escolher uma palavra para me definir, esta seria contradição. Em mim há um coração impulsivo e uma mente controladora, braços que aproximam e pernas que fogem, peito para amar e o mesmo peito para odiar!
Penso que a maioria, ao se ver assim, tentaria controlar tais paradoxos, na tentativa (provavelmente inútil) de se manter uniforme. Faço o contrário, assumo minha contradição e faço dela meu modo de vida.
Isso me torna um ser humano, não a tentativa de ser uma máquina.
"Desde aí comecei a procurar-me - ao eu por detrás de mim à tona dos espelhos, em sua lisa, funda lâmina, em seu lume frio"
João Guimarães Rosa, Primeiras Estórias.