12/18/2008 09:50:00 AM Comment2 Comments


Como todo bom pintor tem o direito de representar seu auto-retrato, creio que os escritores [não me inclua necessariamente nos bons] têm o direito de, com suas palavras, por vezes exageradas, minimalistas, tendenciosas ou pseudoimparciais (visto que imparcialidade é um mito, pois até a ordem das palavras escolhidas revela parte do autor), definir-se como bem se entende.
Se me olhasse por fora, veria um adolescente aparentemente simples, preocupado com algumas de suas obrigações, sonhador, esperançoso; mas como me olho de dentro, numa visão totalmente expressionista, sei que as obrigações por momentos superaram alguns sonhos e só a esperança sobrou.
Por fora, vê-se um jovem com toda a vontade [e até certa habilidade] de se comunicar; por dentro sou capaz de notar determinado hermetismo de minha parte para alguns sentimentos, pensamentos e até ações. Ser um livro aberto não é de meu interesse, posto que assim igualaria todos os leitores. Prefiro deixar que existam entrelinhas para aqueles que sabem lê-las e algumas convicções para os que não decifram nem o amanhecer [como se fazer isso fosse fácil].
Mas, se pudesse escolher uma palavra para me definir, esta seria contradição. Em mim há um coração impulsivo e uma mente controladora, braços que aproximam e pernas que fogem, peito para amar e o mesmo peito para odiar!
Penso que a maioria, ao se ver assim, tentaria controlar tais paradoxos, na tentativa (provavelmente inútil) de se manter uniforme. Faço o contrário, assumo minha contradição e faço dela meu modo de vida.

Isso me torna um ser humano, não a tentativa de ser uma máquina.



"Desde aí comecei a procurar-me - ao eu por detrás de mim à tona dos espelhos, em sua lisa, funda lâmina, em seu lume frio"
João Guimarães Rosa, Primeiras Estórias.

2 comentários:

Bruna monteiro disse...

O que vale é ser, acima de tudo. Não importando ao certo o que seja. Importa é sentir, sem necessariamente precisar nomear. Por isso digo: eu sou. E assim se faz a arte da vida. :]

Dio disse...

A comparação é válida, porém, como todo polemicista, devo problematizá-la.
Ainda na onda da sua analogia com Van Gogh (do título à referência ao expressionismo, certo?), pergunto: e o que é a orelha de sua auto-descrição? Que, em você, aqui não se vê, mas está tão visivelmente cortado que deixa clara a predileção por (ou inaptidão para) não mostrar?

Abraços,
Diogo.

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