4/30/2009 07:43:00 PM Comment7 Comments


-Talvez esteja morto. Disse o médico ao pai da criança logo após a mãe ter entrado na sala de operações

- Nós sabemos que ocorreu uma “bolsa rôta”, o rompimento prematuro da bolsa que abriga o bebê, a mãe estava perdendo o líquido amniótico e não percebeu, seu corpo estava absorvendo o líquido, de modo que poderia ocorrer uma infecção. Tudo indica que o próprio bebê rompeu a bolsa, quis forçar um nascimento precoce. Continuou o médico

O pai observava-o atentamente, olhos arregalados e uma face grave. A criança foi concebida durante a lua de mel, sonho do casal. Era a prova viva de um amor em constante crescimento, assim como a barriga da mãe, assim como o ser que nela habitava.

-Também devo advertir que a infecção ocorreria de maneira geral se a criança estiver morta, calcula-se que o líquido amniótico restante em sua esposa seja o equivalente a meia xícara de chá. Falava o profissional num tom seco, afinal estava acostumado com a ideia de ver mortes, fazia parte de sua labuta.

Há sete meses o casal católico tinha recebido o sacramento do matrimônio, a criança era prematura, não era esse o planejado. A mãe tinha tomado uma série de medicamentos para forçar o amadurecimento dos pulmões do bebê, não tinha percebido que estava absorvendo o líquido que serviria para nutrir seu filho, não tinha nenhuma noção de que o bebê poderia estar morto, nem sequer imaginava que poderia morrer tentando trazer uma vida ao mundo. Imaginava que existia uma complicação, afinal de contas estava rumo a uma cesariana durante uma sexta-feira, ainda por cima, um feriado, na manhã de primeiro de maio de 1992.

- A operação já foi iniciada, devo entrar para auxiliar o médico principal, em alguns minutos obteremos a resposta. Finalizou a conversa o médico que já tinha percebido a falta de vontade do pai em se comunicar.

O meu filho não vai morrer, eu tenho fé. Um fruto de amor não acabaria em desgraça, amo minha esposa, amo essa criança que em minutos terei a chance de ver. Eu não tenho dúvidas de que todo o esforço não foi em vão, não é justo que isso acabe em morte. A minha fé e a de toda minha família prevalecerá. Deus existe, seja lá como cada um crê que ele é, mas existe e não deixará que isso aconteça. E essa data será lembrada com grande felicidade como o momento em que uma criança forte venceu as dificuldades que lhe foram impostas. Será grande, será amado.

Assim o pai ajoelhou-se a rezar.

Minutos depois recebeu a notícia de que a operação foi um sucesso, a criança tinha nascido e sua esposa estava a salvo. Recebeu o nome de João Vitor.

João significa perdedor, é um nome comum. Vitor significa vitorioso, é praticamente o radical da palavra. O pai quis mostrar que o que aparentemente era uma derrota terminou em vitória. Mas, para ele, o mais importante significado do nome do seu filho vem da Bíblia. João significa amado.

4/29/2009 09:49:00 PM Comment1 Comments

Eis que, para mim, mais um ano está perto de se completar. Geralmente, nas proximidades dessa data, reflito sobre o que fiz no período que se passou, se alcancei minhas metas, se cumpri meus deveres. Então, que eu faça uma breve análise em forma de texto. Na manhã de 01/05/08, estava estudando história, mesmo sabendo que era meu aniversário e, ainda por cima, feriado. Naquele ano, meu tempo presente era apenas uma véspera do futuro. Meu ano de 2008 foi dedicado a uma meta, tinha um objetivo a ser cumprido e não deixaria que nada me desviasse dele até conseguir, ainda bem que no final do mesmo ano a vitória foi alcançada. Dei um passo muito importante na minha vida, um passo que gastei muitos anos me preparando para efetuar. Contudo, esse é o primeiro de uma grande trilha a traçar. 2009 trouxe para mim muitas alegrias, mas também, muita responsabilidade. Sinto que preciso estudar mais, quero ser muito em pouco tempo, o que traz consigo muito esforço. Esse hábito em certos momentos me machuca, o de exigir-me muitas vezes até mais do que possa alcançar. Sempre sou inconformado com o que faço, tal sentimento transforma todas as minhas reflexões pré-aniversário numa atividade um tanto frustrante, porém, não é de todo mau, ele me ajuda a evoluir. No campo das relações, 2008 me pôs em prova muitas “amizades”, que se desfizeram na mais rápida ameaça; já 2009 foi bondoso, trouxe algumas em que pretendo investir aprendendo com os erros das anteriores. Ah, claro, algumas características minhas afloraram com o passar desse ano, estou mais reflexivo e analítico, meu conhecimento se expandiu de forma considerável e também tenho pessoas com as quais vale à pena discuti-lo. Entretanto, algo me incomoda, já não sou mais uma criança, mas ainda não assumi a postura de adulto que procuro, porém sou auto-indulgente nesse aspecto, afinal de contas, a adolescência é o período da mudança, só preciso lembrar que estou próximo do fim dela... Enfim, creio devo olhar para meus dezessete anos com certo carinho e receio, carinho por estar caminhando para o homem que desejo ser e receio de não alcançar minhas expectativas, graças ao meu hábito anteriormente citado. Porém não posso reclamar desse hábito, se não o tivesse, o que faria de mim como sou? Talvez toda minha vida seja uma busca incessante pelo que procuro ser.

4/25/2009 12:09:00 PM Comment2 Comments


A quem importa se hoje a água estava mais fria? Se não quis sair da cama, se não quis ver, falar, nem ouvir. Quem se interessa por quantos sonhos ficaram no meio do caminho? Quantas vontades não foram satisfeitas, quantas dúvidas não foram resolvidas. De que adianta explanar as dores, reconstruir momentos de desespero, evocar situações de angústia? Nada, a resposta para isso tudo é nada. No vácuo é que todas essas sensações deveriam ficar, ou não ficar, não existir mais. Mas, elas são como uma música que um dia incomodou muito ouvir pela altura do seu volume. Com o tempo você se afasta dela e sua intensidade é menor, entretanto, a música sempre irá tocar, só que dessa vez mais baixo. E basta se aproximar do rádio que ela volta à tona e continuará irritando, até mais que antes, talvez. O problema é quando várias músicas se unem e formam uma sequência triste, das que puxam o pensamento na mais profunda desesperança. Dá vontade de ser surdo, dá vontade de nunca ter vivido. O pior é que nunca sei quando estou me aproximando do rádio, nunca percebo se o volume da música está aumentando gradualmente ou foi de maneira brusca. Só sinto que a sinfonia começou a tocar e nela mergulho, não quero pensar em mais nada, não quero ninguém. Procuro a fuga em algum lugar, em algo que me dê conforto, mas não há solução. A situação só se resolve se eu escutar toda a melodia (que durante seu percurso me parece sem fim) até enjoar de novo e, de uma maneira que nunca pude explicar por não saber como aprendi, abaixar o volume da música e deixar que outros sons, de preferência mais alegres, manifestem-se com o fim de me fazer esquecer daquelas tristes notas. Mas, acho que é inevitável, pois fui eu que ajudei a compor a canção e - por vir de mim - ela sempre ecoará em minha vida ensinando-me a aproveitar melhor as batidas felizes que meu coração dá. Não sei se um dia conseguirei, mas, por enquanto não vejo como regular o ritmo da sonora existência terrena.

4/23/2009 10:33:00 PM Comment0 Comments

A verdade é: não há opção. Aceite, é o que eu digo. Aja como eu faria e, digo mais, seja melhor, o mundo exije cada vez mais, por que não exigiria de você? Só vou ajudar o essencial, o resto é de sua responsabilidade. Eu pago até saber que você tem uma maneira de conseguir dinheiro e pagar. Sim, eu lhe dou comida porque você precisa dela para ficar forte e vencer o mundo, afinal de contas, não está nele para perder. Por essa mesma razão sua vitória não será exaltada, é apenas um reflexo de sua obrigação, haverá recompensa quando o investimento for tamanho que é necessária uma forma de demonstrar aos demais seu merecimento. E assim será enquanto meus olhos estiverem em você. Suas escolhas devem ser condizentes (na verdade, devem refletir, ser completamente compatíveis) com as minhas. Ah, disciplina é imprescindível, desleixo é uma tendência sua e por isso deve ser reparado com mais força. Outra tendência sua é o erro, mas é óbvio que você não possui essa opção, não é com ela que se aprende, é com o ato de evitá-la que se mostrará mais forte, os fracos erram. Alguns distúrbios resultantes desse método podem se desenvolver durante a sua vida, mas o erro não está no método (porque ele funcionou comigo), o erro está em você, já cansei de dizer que é fraco. Nada me importa se você tem a idade mental três anos mais avançada que a corporal, sempre terá 25 anos a menos que a minha. Algumas concessões serão feitas, claro, sabemos em que situações você rende mais, contudo, lembre-se, só serão feitas as concessões que me forem convenientes. E digo mais, tudo que você é vem de mim, dos meus genes, dos meus planos e da rotina que planejei. Não vou mudar, é indiscutível e seu futuro será o que escolhi. Logicamente você sabe qual é, meus investimentos nunca são em vão, uma cria minha jamais nasceria para a derrota. Limites não foram criados para serem quebrados, mas, impostos.

4/22/2009 05:32:00 AM Comment1 Comments


Hoje, quebrei as regras. Aliás, quebrei normas que foram impostas a mim desde que nasci, sem nenhum direito a discussão, contestação ou reforma. Talvez a imagem do filho perfeito tenha sido um tanto arranhada e, para que volte ao normal, a reparação exija certo castigo. Na verdade, foi um erro honesto, se assim for possível definir. Não atentei a nenhum dos meus princípios mais fortes como filho. Não desobedeci às ordens mais rígidas de minha família, apenas desrespeitei um dos vários padrões daqui: o horário. É, pus meu pé em casa com certas horas de atraso e fui descoberto. A princípio senti um pouco culpa, mas, depois pensei: “certas barreiras apoiadas meramente em padrões excessivos devem (e precisam) ser quebradas.” Todo animal tem que romper a casca do ovo e não venham dizer que eu não rompi, porque uma hora saí da minha mãe, quebrei a mais dura de todas as cascas, saí de dentro de outra pessoa. Estou me sentindo bem, toda essa situação me faz lembrar que sou mais um adolescente do que um adulto em formação. Não sou perdoado como uma criança, entretanto não devo receber as mesmas responsabilidades que um adulto. Valeu e continuará valendo a pena ter uma boa noite de conversas e jogos com pessoas que gosto e posso chamar de amigos, sempre. Estou com um pouco de sono, provavelmente cansaço, porém provando de uma sensação que nunca tive. Eu errei e escolhi errar, por que, por quem e como errar. Não me interessa o que venha a ser o castigo (ou reparação), achei válido e não vou me arrepender, por mais que tenha outras oportunidades privadas mais tarde. Alguma hora eu tinha de errar, é um direito meu, é um direito humano. Estou saindo dos padrões, decepcionando expectativas de perfeição, divertindo-me sem pensar em meras convenções. Estou prestes a fazer dezessete anos, estou crescendo e finalmente sentindo mais do que as mudanças biológicas.
P.S: Sim, deu muita vontade de escrever um texto completamente inútil logo que cheguei em casa e não estou dando a mínima para a análise da qualidade dele (:

4/18/2009 07:36:00 PM Comment3 Comments


Há momentos nos quais me encontro numa euforia sem fim, em que transbordo de carinho e simpatia, em que vejo cada parte da vida pelo lado bom que ela tem a me oferecer. Por motivos diversos, na maioria das vezes inexplicáveis, entro nesse estado de realização e, quando menos espero, já estou fora dele. Por menores que sejam, meus lapsos são suficientes, vêm quando acho tudo normal por demais e me fazem analisar tudo por outra ótica, a ótica sem minha amargura natural, sem meu humor muitas vezes azedo, sem o veneno que dizem escorrer da minha boca quando falo. Nesses momentos meu único desejo é agradecer, a todos que estão a minha volta, pelos mais inusitados motivos de construirem minha alegria. É como se voltasse a ser criança, ou melhor, como se a criança que existe em mim tomasse todo o controle da minha mente e os que estão comigo fossem guardiões, pessoas que só querem meu bem. Nesses momentos percebo que realmente tenho esses guardiões, anjos de guarda que agem em prol da minha superação, minha melhoria. Posso não demonstrar, mas sei valorizar as pequenas ações, os mais breves momentos nos quais os que me circundam demonstram a razão de a vida ser tão mágica, o motivo pelo qual vale a pena acordar pensando que cada dia é uma chance indispensável de espalhar o bem, de querer bem, de "ser bem". Meus anjos agem de forma sutil, mas eficiente, e quando tomo consciência deles sinto que são indispensáveis, que são parte de mim. Acho que Bakhtin me dá a melhor definição possível dessa ação conjunta: "Sou na medida que interajo com o outro." Então sou melhor, porque os que interagem comigo querem que eu encontre o melhor.Espero que essas linhas captem todos aqueles que fazem de mim, cotidianamente, uma pessoa melhor pelo simples fato de existirem. O mais bonito de tudo é que o fazem de maneira inconsciente e inesperada, do mesmo modo que meus lapsos surgem e vão embora.

4/13/2009 06:32:00 PM Comment2 Comments

Bobo da corte, bufão, bufo ou simplesmente bobo é o nome pelo qual era chamado o "funcionário" da monarquia encarregado de entreter o reis e rainha e fazê-los rirem. Muitas vezes eram as únicas pessoas que podiam criticar o rei sem correr riscos.
Os bobos da corte são figuras interessantes. A começar porque de bobo pouco têm, são espertos, de pensamentos rápidos e traiçoeiros. Depois, porque geralmente têm algum fim para todas as suas ações, esperam conseguir algo de alguém. Sabem mentir, esconder e até manipular. De toda a corte, para mim são os mais interessantes, não têm uma posição beneficiada, não se apoiam em suas origens, dependem apenas das suas habilidades e inteligência. Às vezes me sinto um bobo da corte. É preciso fazer alguns rirem para, posteriormente, rir mais. É sensato se fazer de bobo para que outros não exijam mais do que se pode entregar. Minhas habilidades interessam [ou deveriam interessar] apenas a mim, uso-as quando percebo que é apropriado, com meios sutis para conseguir o desejado. Em passos mudos se trilha uma tranquila e sólida caminhada. Ser um bobo da corte é uma ótima maneira de desviar atenção dos seus projetos, é fazer com que tenham apenas uma impressão sua: a de que você está [apenas] preocupado em divertir os demais. Sim, engano, sim, dissimulo, mas é para manter meu ritmo. Além do mais,bobos muito sabem esconder a tristeza. Não adianta exibir algum mal que sinto, uma situação desagradável, uma perda, para a grande corte. A tristeza é uma sensação a ser divididas com poucos, do mesmo modo que gera compaixão, cria desprezo e demonstra fraquezas, que [para alguns "espertos"] são uma chance de se aproveitar. Enganar é necessário. Muita exposição gera expectativas, expectativas diminuem pessoas e trazem frustrações. Por isso, continuo assim porque de uma coisa eu sei: bobo bom é tão esperto que derruba qualquer rei.

4/08/2009 10:13:00 PM Comment2 Comments

Hoje, andando pelo Recife, vi um balão pichado num dos vários muros da cidade. Um balão daqueles que são usados para mostrar o pensamento de algum personagem de história em quadrinho, que parecem uma nuvem. Tinha escrito: “Você tem medo da solidão?” Diante dele eu parei, observei um pouco e, em voz baixa, respondi: “Não!”. Então pensei em todas as coisas que poderia fazer se vivesse só: leria muito mais, escreveria com mais frequência, ouviria várias músicas e não pensaria que sou/estou só. Depois, imaginei-me conversando com alguém sobre o livro que li, mostrando a alguém o texto que escrevi... É, fiquei em dúvida. Então pensei: “sou tão frio assim?” Depois refleti e conclui que sou frio sim, mas não por maldade.
Ignorar sentimentos alheios, pesar apenas a razão, evitar algum tipo de relação são consideradas ações frias e, por alguns, desumanas. Ser frio é considerado um erro, um sinônimo de alguém que não merece atenção, cuidado. Nesse ponto reside a contradição, errar é o que confere ao ser humano sua definição, usando o velho lugar comum: “errar é humano”. Do mesmo modo que ser frio é um erro, julgar também é. Muitos julgam alguém que está tomando atitudes frias sem tentar procurar as razões pelas quais tais ações são feitas. Frieza por vezes é uma máscara, alguns ignoram sentimentos para impedir que eles os tomem por completo e assim façam com que percam o controle, o que [nem sempre] pode ter um bom fim. O mesmo se estende às relações, pessoas são capazes de interferir de tamanha maneira na vida do outro que, para alguns, é melhor afastar. A psicologia explica, em certos casos, essa ação como uma forma de narcisismo, Narciso não achava que ninguém era bom o suficiente para ele. Eu vejo como insegurança, talvez o que afasta não se acha bom o suficiente para ninguém e sente medo de frustrar o próximo [ou se frustrar com ele].
Não quero me machucar, nem machucar o outro. Acho que só estou me defendendo. Mas, como o próprio parágrafo anterior explica, a frieza é só uma capa, capa que para mim serve de barreira para provar se um sentimento é verdadeiro o suficiente. Já que o clichê diz que o amor quebra todas as barreiras, que, comigo, ele comece quebrando essa.


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